domingo, 25 de abril de 2010

A Corridinha da Madeira






Funchal, 31 de Dezembro de 2009

Último dia de um ano marcado por um número record de quilómetros a correr por quatro continentes. Para iniciar o programa de festividades, nada melhor do que um treino num cenário belo e vibrante, como é da cidade do Funchal.

Será o meu terceiro “réveillon” na Madeira. E confesso que não me canso de assistir ao intensificar de um frenesim organizado entre os madeirenses com o aproximar da hora que marca o início de um novo ano. Mas vivê-lo enquanto faço uma corrida pelo centro do Funchal foi a primeira vez.

Aqui o 31 de Dezembro ultrapassa em muito um dos mais belos fogos de artifício do mundo. É toda uma experiência de rituais madeirenses inseridas num cenário deslumbrante que enriquecem este dia. Podiam tirar o espectáculo de fogo de artifício daqui e transferi-lo para outro local que certamente não seria a mesma coisa.

Inicio a corrida na Avenida do Mar, muito próximo do local onde, no ano anterior, tive o prazer de participar na Volta da Cidade, conhecida por S. Silvestre do Funchal, a “Corrida de S. Silvestre” mais antiga do país. Esta é uma prova que atrai muitos populares que apoiam com boa disposição e entusiasmo os participantes.

Prossigo junto ao mar em direcção a Este. Pelo caminho tenho por vezes que correr em “modo Cristiano Ronaldo”, pois sou obrigado a “driblar” algumas das centenas de pessoas que por ali fazem os seus últimos passeios do ano. Trespasso algumas colunas de fumo vindas de fornos que vendem comida na rua (bolo do caco?).

Ao largo da baía já se avistam alguns navios cruzeiro de grande envergadura que por aqui permanecem neste dia, injectando na cidade alguns milhares de turistas que desaparecem quase tão rapidamente como aparecem.

Mais adiante o passeio junto ao mar está vedado pela polícia. Ali estão a ser instalados contentores carregados de explosivos para o espectáculo de mais logo à noite. Em seu torno equipas de pirotécnicos ultimam calmamente os últimos pormenores.

Alcanço o Forte de S. Tiago e com ele terminam os passeios junto ao mar. Penso em regressar na direcção contrária, mas decido prosseguir sem destino.

Chegado a uma zona mais antiga da cidade começo a enfrentar ruas com subidas muito íngremes que momentaneamente transformam um “treino-passeio” em “treino-sofrimento”. Enquanto percorria a Avenida do Mar, esqueci-me que o Funchal é uma cidade que, topograficamente falando, pode não ser muito simpática para alguns corredores.

Para trás vai ficando a agitação do centro do Funchal e começo a entrar numa zona mais antiga e rural. As casas vão ficando mais dispersas pelas colinas. Junto a uma pequena localidade, a paisagem é rasgada por uma ribeira que corre em direcção ao mar.

Pelo caminho vou despertando alguns cães de guarda desconfiados. Mas acabam por ser os foguetes e bombas lançadas pelos locais que me provocam alguns sustos durante o meu percurso. O mergulho ocasional numa paisagem calma, silenciosa e tranquila era subitamente por um foguete ou bomba.

Pode parecer estranho. Mas só para quem nunca aqui esteve nesta altura do ano. Esta é uma das características que torna único o fim de ano na Madeira. O fogo de artifício que os próprios madeirenses lançam ao longo do dia nas suas casas. E à medida que nos aproximamos da meia-noite, estas manifestações vão-se sentindo com maior intensidade no Funchal e arredores.

Continuo a subir por estradas estreitas. Cruzo-me com poucas pessoas. Normalmente pessoas que aguardam pelos autocarros Horários do Funchal. Algumas cumprimentam-me e naturalmente que retribuo. Parecia que a corrida de hoje não tinha fim, algures numa localidade (Lazareto?) cheguei a beco sem saída que marcava o meu ponto de regresso. Mas não sem antes aproveitar para contemplar uma extraordinária vista sobre a baía do Funchal, coberta por uma luz alaranjada que indiciava o fim do último dia do ano e o início de uma longa noite. Ao largo os navios parecem posicionar-se para obter a melhor vista sobre o espectáculo do fogo de artifício.

Recupero um pouco do fôlego perdido nas múltiplas subidas que percorri até chegar ao meu ponto de retorno e preparo-me para um regresso que seria bem mais suave, no qual somente tive que soltar as minhas pernas de regresso ao centro do Funchal.

O sentimento de esforço deste treino perdeu-se um pouco com tantas descidas. Pelo que decido prolongá-lo até perto do “Promenade”, no lado Oeste do Funchal.

O trânsito de carros e pessoas começa a intensificar-se, bem como o rebentamento de foguetes e outros explosivos inofensivos. Sente-se que algo de importante está para acontecer. Eu, hipnotizado com tanta excitação em meu redor, acabo por me perder nas distâncias e no tempo.

Já numa tentativa de regresso a casa, percorro a Avenida do Infante iluminada por centenas de lâmpadas coloridas antes de encarar subidas contínuas e ininterruptas. Começo a sentir-me cansado, atrasado e já excedi largamente o treino programado para hoje, tal foi o entusiasmo...

Mas subitamente, e ainda bem longe de casa, sou “recolhido” pelos meus anfitriões e fico a saber que dali a instantes, e já em casa, vou poder saborear os melhores hambúrgueres do mundo, feitos no “Castelo dos Hambúrgueres”. Embora uma actividade desportiva possa parecer contraditória com a ingestão de um hambúrguer logo a seguir para mim foi a melhor das recompensas depois deste final de tarde madeirense.

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