sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

O MoMA e o Central Park



Nova Iorque, Novembro de 2009

O Museum of Modern Art de Nova Iorque (MoMA) é uma referência incontornável dos apreciadores de arte moderna. Do conjunto das obras da sua colecção constam quadros de Monet, Picasso, Van Gogh, Matisse, Salvador Dali, Chagal, Magritte, Klimt.

Mediante tão rica e diversificada colecção, todo o tipo de apreciador de arte conflui para este espaço. Com eles devem igualmente chegar múltiplas interpretações das obras expostas. Quadros como o “Les Demoiselles d’Avignon” de Picasso ou a “A Persistência da Memória” de Dali são certamente susceptíveis de gerar análises aprofundadas, científicas ou meramente pessoais de todo o género.

Pelos corredores, vêem-se pessoas que se rendem às interpretações que constam do audio guide. Outras, visivelmente mais estudiosas, observam as obras de diversas perspectivas. Muitos deixam-se simplesmente mergulhar nas imagens. Múltiplas formas de apreciar e retirar prazer a partir de uma mesma obra.

A alguns quarteirões de distância o Central Park. Por entre trilhos e estradas que serpenteiam entre suaves colinas povoadas por árvores, lagos, campos de treino cruzamo-nos com múltiplos corredores e "joggers".

E se no MoMa é possível encontrar todo o tipo de obras de arte moderna, bem como as mais diversas interpretações sobre as mesmas, também no Central Park encontramos, sem exagero, todo o tipo de corredores.

Uma semana após a maratona de Nova Iorque, já foi possível cruzarmo-nos com corredores duros que deslizam pelo Central Park a velocidades respeitáveis, com uma passada firme e confiante, levantando atrás si a terra enlameada que resultou da chuva e humidade dos últimos dias.

É possível ver igualmente ver corredores seniores (pelo menos setenta anos!) que fazem o seu treino a uma passada curta, lenta, mas precisa como um relógio suíço. E pensamos em como seria bom conseguir chegar àquela etapa da vida com força, saúde e ainda muita vontade de correr num parque daqueles.

As corredoras do tipo Prada e Dolce & Gabbana. Muito vistas também. Possivelmente retiradas de uma episódio de “O Sexo e a Cidade”. Impecáveis no outfit. Correm de óculos escuros e de boné cap com cabelo apanhado em “rabo de cavalo”. Algumas com o IPhone em mãos. Correm de forma graciosa e elegante. Parece até que nem transpiram enquanto percorrem os caminhos do parque.

Os que passeiam os cães. Normalmente Golden Retrievers que seguem, sempre à mesma distância e de forma entusiástica (ou não!) os seus donos.

À semelhança do que acontece no MoMa, é a diversidade que confere uma riqueza extraordinária ao Central Park. Enquanto no primeiro espaço é possível ver uma multiplicidade de obras e apreciadores das mesmas, o Central Park proporciona um conjunto de imagens dignas de constar nos mais belos postais e um conjunto de pessoas que interpretam e usufruem do parque ao seu próprio estilo e ritmo. Sem estas, de certo que os 341 hectares de paisagens não estariam cheios de vitalidade e de uma energia absolutamente contagiante.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Kuala Lumpur Melting Pot



Kuala Lumpur, Julho de 2009

Embora possa parecer uma ideia um pouco "Socrática", acredito que uma das formas de sentir o "pulso" de uma cidade pode muito bem passar por uma corrida.
São 17 horas em Kuala Lumpur. O mercúrio subia até aos 30º e a humidade rondava os 80%.

As condições não são de todo perfeitas para uma corrida. Tanto mais porque o "jet lag" (- 7 horas) ainda se fazia sentir.

O ginásio do hotel estava muito bem equipado e refrigerado mas não me seduziu de todo, pois a curiosidade relativamente ao mundo exterior era enorme!

O hotel tinha a vantagem de estar em frente à versão malaia das Twin Towers, as Torres Petronas. Duas torres construídas em ferro e vidro. Absolutamente deslumbrantes e imponentes. Mesmo para aqueles que não se deixam impressionar por obras megalómanas.

Estas torres representam o crescimento e poderio económico da Malásia sustentado, em parte, pelo petróleo e o gás.

Na Malásia, a indústria do petróleo e de outros minérios terá servido para financiar a construção de infra-estruturas, o desenvolvimento económico-social e tecnológico, factos que poderão ter contribuído para uma maior estabilidade social, pelo menos aos olhos de quem passou por aqui um "par de dias".

E este até é um país que tinha tudo para ser conflituoso no seu interior por ser um verdadeiro "melting pot", onde pessoas das mais diversas nacionalidades e religiões convivem lado a lado, mesmo que em outras partes do globo nutram um profundo ódio.

A população da Malásia é constituída em 50% por malaios (e dentro destes a população é maioritariamente muçulmana), 24% de chineses, 7% de indianos. O remanescente é uma lista infindável de outras populações indígenas, eurasiáticos, árabes e outros não-malaios.

Esta impressão ficou reconfirmada durante uma corrida de aproximadamente 8 kms em torno de um circuito reduzido de 1,3 kms, dentro de um parque entre o hotel e as Torres Petronas.

Como é costume neste tipo de corridas, prescindo de todos os acessórios que me impeçam de absorver o que se passa em meu redor. E foi de facto incrível perceber como num pequeno espaço conseguimos cruzar-nos com chineses, japoneses e outros asiáticos cuja origem é imperceptível no imediato, bem como famílias indianas com mulheres vestidas nos seus coloridos "saris", famílias árabes identificadas muitas vezes por mulheres envergando os típicos véus e "burkas". E turistas americanos, australianos, europeus...

Ao invés dos sons vindos de um IPOD, a banda sonora desta corrida acabou por ser uma oração em árabe que escutava através do megafone de uma mesquita junto ao parque.

Pelo percurso ainda me cruzei com uma rapariga muçulmana que treina como eu, mas que não dispensa um véu que esconde os seus cabelos. Um acto de coragem atendendo às condições climatéricas que descrevi.

Todos os turistas não resistem em contemplar as enormes torres que rasgam o céu na procura do melhor ângulo para a foto perfeita. Nesses momentos acabam por "invadir" involuntariamente, ou não, a pista destinada aos corredores.

Mas logo que se aproxima um corredor, um funcionário do parque desimpede a pista de corrida, abortando um conjunto de fotografias que estavam prontas a ser disparadas. Tudo em nome da livre circulação das pessoas que por ali treinam. Muitos pormenores não são deixados ao acaso na organização deste país.

Toda uma mescla de culturas, gentes e sons conseguem juntar-se naquele pequeno perímetro. Só faltavam mesmo os cheiros das comidas de rua em China Town.

Intro

Estádio Universitário. Noite fria na qual a chuva ameaçava cair a qualquer momento. Treino ligeiro, razão pela qual dispenso qualquer acessório de entretenimento. Durante 8 quilómetros não encontrei igualmente qualquer motivo particular de interesse. A noite estava particularmente escura e raras eram as pessoas que por ali treinavam.
Pelo que fiquei completamente entregue aos meus pensamentos. E estes pareciam insistir no significado de ali estar a correr sozinho num percurso enlameado pelas chuvas dos últimos dias.
Comecei a revisitar o passado e as origens deste hábito regular de correr.
Ainda que a minha experiência não seja em nada comparável à de muitos companheiros que percorrem essas estradas e trilhos fora, sem grande esforço a minha memória começou a percorrer todo um passado recente, desde das origens deste gosto particular, passando pelos primeiros desafios em que me coloquei, até aos objectivos que se vislumbram no futuro. Memórias de muitos sentimentos de liberdade e euforia. Alguma dor e desilusão. Algumas novas amizades, outras reforçadas.
O presente espaço não tem por objectivo a partilha de metodologias de treinos mas tão-somente um meio de partilhar ideias e sentimentos, de uma forma despretensiosa, sobre como tenho retirado um prazer inesgotável a cada quilómetro percorrido e como o mundo que nos rodeia também pode ser visto na perspectiva de um corredor.
 
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