quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Central Park




Nova Iorque, Novembro de 2009
Porque não consigo abstrair-me totalmente do mundo que me rodeia, procuro alguma da energia que me move na minha envolvente, razão pela qual procuro aliar o gosto de correr com os melhores cenários. E nesse aspecto, o Central Park sempre foi para mim um espaço "fetish".

Antes de partir para viagem, recolhi alguns teasers sobre aquilo que esperava ser um treino memorável. Desde o plano do parque, os percursos que poderia fazer e algumas curiosidades que confirmavam a sua grandiosidade. 341 hectares. Aproximadamente 10 kms de perímetro. 25 milhões de visitas anuais estimadas. Terrenos avaliados em USD 528.783.552.001 (370 mil milhões de Euros!). Dados do início do mês de Dezembro quantificaram a dívida pública do Estado Português em 183 mil milhões de Euros.

Fiquei esmagado pelos números. E mais esmagado fiquei quando tive o meu primeiro contacto com o parque. Um Domingo luminoso. Mas estava longe de estar preparado para uma corrida. Entrámos por Harlem e seguimos em direcção a Midtown.

Pelo caminho cruzo-me com centenas de pessoas que correm e pedalam sobre o asfalto e os trilhos que rasgam o parque em todas as direcções. Procuro perpetuar algumas imagens com algumas fotos. Observo o ambiente que me rodeia com inveja de não poder tirar maior partido dele. A minha expressão de ansiedade foi captada e fui comparado a um miúdo que foi a casa de alguém com piscina e não trouxe fato-de-banho. Foi uma comparação bastante precisa relativamente ao sentimento que tinha naquele momento.

Tinha uma vontade enorme de fazer parte daquele quadro vivo composto por pessoas de todos os géneros, lagos, trilhos, campos verdes, tapetes de folhas caídas. Descobrir todo aquele espaço pelas minhas próprias passadas. Mas as minhas sapatilhas descansavam a dezenas de quarteirões daquele local.

Mantive a calma. Não tinha outra solução. O Guggenheim acabou por revelar-se um óptimo elemento de distracção e a estreia ficou guardada para um par de dias depois.

Já não sob o sol de Domingo, acabei por estrear-me no Central Park (em modo “treino”), num dia cinzento e frio. Entrei pelo parque pela 7ª Avenida com o objectivo de completar uma volta completa de 10 kms.

Percorro os primeiros quilómetros numa passada lenta para aquecer, mas também para não deixar de absorver cada pormenor.

À medida que caminhava em direcção ao interior do parque, os ruídos da cidade vão ficando mais distantes e imperceptíveis e a atmosfera carregada de fumos lançados pelos carros americanos de alta cilindrada são substituídos por um ar bem mais leve. De repente, já nem parece que estamos a percorrer Nova Iorque no início da "rush hour".

O parque está tingido por múltiplos tons de vermelho, castanho e amarelo das folhas que vão forrando os caminhos. Estas estendem longos tapetes que amortecem as minhas passadas.

Esquilos vão-se atravessando ocasionalmente pelo meu caminho. São tantos que se tornam banais poucos quilómetros depois.

Há cerca de uma semana assisti ao final da Maratona de Nova Iorque, que termina em pleno Central Park. Durante o treino começo a ter sensações de "déjà-vu" mas agora bem longe do conforto de um sofá. Tento imaginar o sentimento de milhares de bravos do pelotão que terminaram a prova neste cenário idílico! Sem sucesso porém, pois só tenho cerca de 3 kms nas pernas e estou longe da glória de completar uma maratona...

Chego ao Jaqueline Kennedy Onassis Reservoir pelo East Side. E deparo-me com uma das imagens mais populares do parque. O céu no West Side recortado por um conjunto de edifícios que formam o "skyline" e reflectem sobre o lago.

Em direcção a Harlem, passo por múltiplos recintos de jogos. Pistas de gelo, campos de basebol, “soccer” e futebol americano… todos sem excepção estão ocupados. A vida no parque parece não parar.

Depois de alcançar o ponto de retorno em Harlem, regresso pelo West Side por trilhos enlameados e sob copas de árvores.

Pelo caminho cruzo-me com um conjunto de “nanys” hispânicas sentadas em bancos de madeira a trocar palavras em castelhano enquanto embalam carrinhos com bebés de cabelo dourado.

Deslizo para o final da corrida. Plenamente realizado por ter tido o privilégio de percorrer este espaço magnífico que não desiludiu em nada as enormes expectativas que tinha.

No final paro numa mini roulotte. Os hot dogs tinha óptimo aspecto. Fiquei-me pela Vitamin Water, bebida da moda em Nova Iorque.
 
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