terça-feira, 26 de abril de 2011

João, Armindo, Cabral e José

Estádio dos Coqueiros de dia






O genial (?) Edíficio CIF




Luanda, Março de 2011

A noite caiu abruptamente sobre a cidade de Luanda. Saio do escritório desconfortável e irritado.

O João está animado. E acompanha com pancadas no volante o ritmo de um “pagode” que faz estremecer as colunas do frágil Hyundai Getz.

Estava cansado e irritado. Sem paciência. Amanhã teria que ser capaz de ouvir as músicas do João com outro espírito.

Decidi treinar então. O primeiro treino desde regresso a Luanda.

Antes de sair de casa lanço um olhar de soslaio sobre o debate parlamentar em Portugal sobre a causa das coisas.

Chego à rua e começo de imediato o treino. Não se pode dizer que tenha começado a frio, pois apesar de ser noite estão certamente 30º e uma humidade que torna o ar pesado e irrespirável.

O ponto de partida é o Bairro Azul que me faz lembrar um bairro de vivendas ali para os lados de Benfica em Lisboa. Casa sim, casa não, um segurança à porta sentado em banco de plástico branco encardido. Cumprimento alguns e todos, sem excepção, respondem com um “Ok! Obrigado!” ou “Obrigado Sinhor!”. Muitos têm uma telefonia sintonizada num jogo de futebol ou basquete. Outros, mais sofisticados, têm uma televisão apoiada em frágeis bancos de madeira.

Subo uma rua escura.

Alcanço a Cidade Alta, onde estão sedeadas as mais altas instâncias militares angolanas e o palácio presidencial para depois descer em direcção à marginal completamente vedada a transeuntes. Um longo período de obras devolverá a glória e beleza do lugar mais nobre de Luanda.

Estou a fazer uma missão de reconhecimento a Luanda e sinto-me meio perdido. Sem saber para onde ir. Acabo por optar pelo Estádio dos Coqueiros. Ao lado, um restaurante muito frequentado por portugueses. Na falta de um jogo de futebol, a TV sintonizava o deprimente espectáculo político. Já é tarde e à porta dois seguranças pedem-me (com razão) por um papel para poder entrar. Peço para facilitar e pago o valor normal de entrada (150 Kwanzas). Acabo por deixar um pouco mais para estimular o crescimento de uma rede de amigos com quem me vou cruzar nos próximos tempos. Os guardas radiantes com a oferta disseram-me para mencionar sempre os seus nomes deles quando ali regressar.

- “Armindo e Cabral! Mas sem dinheiro! Porque dinheiro estraga a amizade!” – refere um dos guardas com um sorriso rasgado.

Após uma dezena de voltas pela pista escura do estádio, despeço-me dos guardas e regresso a casa pelo mesmo caminho. Uma subida íngreme leva-me da baixa até à cidade alta.

Pelo caminho passo por alguns prédios em construção e outros novos que revolucionaram as linhas urbanas de Luanda. Alguns chamam-lhe sinais da modernidade. Outros uma disputa sobre quem tem o mais alto e luxuoso edifício de Luanda ou pura falta de bom gosto.

Dentro desta última categoria de opiniões, há um edifício que se destaca dos demais.

Construído em tempo record por chineses, este edifício de 29 andares destaca-se de noite pelas luzes “led” que cobrem toda a sua fachada projectando desenhos coloridos das mais diversas formas.

Continuo a subir e por entre estas nuvens de poeira, passo pela Assembleia Nacional de Angola. Luzes apagadas. Silêncio e dois guardas em modo “screensaver”. Tudo calmo e tranquilo.

Já em casa e depois do banho, ouvimos incrédulos às palavras de dor e consternação do José em versão pós-demissão. Vítima da conjuntura financeira internacional, dos especuladores, da oposição. Jamais dos seus próprios actos. O desconforto e a irritação regressaram de novo.

domingo, 10 de abril de 2011

Alvorada mexicana

Zocalo ao amanhecer

 Electricistas em greve
Mural de Diego Rivera no Palácio Nacional

Catedral
 
Paseo de la Reforma

Bosque de Chapultepec


 Cidade do México, Julho de 2010


Primeira noite em território mexicano no imponente Hotel Meliá em pleno Paseo de la Reforma.

O jet lag fez-se sentir de imediato e nem o cansaço da viagem fez com que dormisse para além das 5.30 da manhã. Estou completamente desperto e desejoso por explorar a Cidade do México pelo meu próprio pé.

Silenciosamente abandono o quarto, mas ao alcançar a porta do hotel apercebo-me que às 6 da manhã ainda é noite cerrada por aqui.

Como eu e a Cidade do México mal tínhamos sido apresentados, e sua fama não é a melhor, decido não arriscar. Faço um aquecimento deprimente na passadeira do ginásio do hotel esperando que os primeiros raios de sol irrompam o céu.

Mal estes aparecem, saio porta fora.

A cidade está a 2.000 metros de altitude e sinto o ar frio. Algo que não estava à espera durante umas férias de Verão. Sigo para um passeio repleto de história.

Operários da construção civil aglomeram-se junto às suas obras a beber uma espécie de sopa. Outros mais destemidos optam pelas barracas de tacos.

Sigo em direcção ao Zocalo. A praça central da cidade. E deparo-me com uma enorme manifestação de electricistas. Palavras de ordem contra o Presidente. Muitos pareciam andar nesta luta há dias. Os sindicatos mexicanos são fortes e movimentam milhares.

No centro da praça uma gigante bandeira dos Estados Unidos Mexicanos move-se lentamente ao sabor de ligeiras brisas matinais.

Contorno a praça junto ao Palácio Nacional onde residem os fabulosos murais de Diego Rivera. Adiante as ruínas do Templo Mayor Azteca. Ao lado a fabulosa Catedral. 500 metros repletos de história.

Regresso em direcção ao Bosque de Chapultepec (colina de gafanhotos). Subo o Paseo de La Reforma em passo mais acelerado e a altitude fazer-se sentir pela primeira vez. A respiração fica mais difícil de controlar e os meus pulmões ficam subitamente mais limitados. Alcanço o bosque pintado a vários tons de verde e mergulho num espaço de imensa calma. Outrora refúgio dos Aztecas, este bosque era um autêntico viveiro de serpentes e principal fonte de abastecimento de água à cidade antiga. Dizem que é o maior parque da América Latina. Mas o tempo era escasso e pouco mais pude fazer do que voltar a descer o Paseo de la Reforma em ritmo de prova.
 
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