Partida em plena Ponte Vasco da Gama |
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O Rio Tejo e o Cristo Rei |
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Lisboa, Setembro de 2010
Domingo de Sol. Cerca de 17 mil pessoas estendem-se ao longo dos últimos quilómetros da ponte Vasco da Gama com um destino comum: Lisboa e o Parque das Nações.
Os caminhos podem ser percorridos de forma ligeira e digna de uma manhã domingueira (mini-maratona de 6 quilómetros), ou por caminhos mais longos e tortuosos (meia-maratona).
Junto à partida dão-se os inevitáveis encontros entre corredores que parecem partilhar estes desafios há anos. Abraços e gargalhadas. As piadas competitivas. No ar sentem-se os odores de pomadas analgésicas de quem quer esquecer momentaneamente alguma dor. O som de uma hélice de um helicóptero arranca os últimos acenos dos corredores para o ar. A energia humana mistura-se com um som distorcido e ensurdecedor projectado por colunas espalhadas pela ponte. O ambiente é caótico e vibrante.
Início de mais uma prova na minha cidade. Não existem segredos em grande parte das ruas de Lisboa e muitos dos seus cantos guardam memórias de rostos ou circunstâncias particulares.
E assim foi. Desde logo na partida onde há dois anos iniciei a minha primeira meia-maratona mergulhado num mar de incertezas e angústias e ao som da “La Revancha del Tango” dos Gotan Project.
Após dois quilómetros sobre a Ponte Vasco da Gama alcançamos as margens de uma nova Lisboa que começou a ser erguida há cerca de 15 anos, quando o país ainda se julgava próspero. Anteriormente este espaço era ocupado por unidades industriais falidas e suas respectivas lixeiras. Os solos contaminados da zona criavam barreiras intransponíveis entre os Lisboetas e o Rio Tejo. Hoje vive aqui uma nova cidade contrastante com o charme da Lisboa antiga do centro.
Prosseguimos por entre prédios altos de formas contemporâneas até chegarmos ao quilómetro 5 e o primeiro grande aglomerado de público. Ouvem-se aplausos que nos enchem de energia. As nossas pernas parecem ficar mais leves e as passadas alargam-se, como que retribuindo o gesto de um público anónimo.
Seguimos paralelamente ao Tejo junto ao Porto de Lisboa. Edifícios de linhas rectas e provavelmente erguidos durante os anos 60. Muitos ainda ostentam nomes de sociedades e cooperativas entretanto desaparecidas.
O Sol brilha com maior intensidade e põe a descoberto os prédios que envelhecem à medida que caminhamos para ocidente.
O Porto de Lisboa parece estar calmo e tranquilo. Com poucos cargueiros atracados, gruas paradas e centenas de contentores coloridos de todo o mundo acumulados.
Esta zona portuária parece ser um local inóspito e com poucos motivos de interesse. Mas enquanto percorro estes quilómetros sou tomado por múltiplas memórias. Como um beijo nocturno à beira rio, um jantar de amigos, um amanhecer numa varanda de discoteca, um "brunch" com vista para um cruzeiro, um comboio que apanhei sem destino, a Amália, os cacilheiros que cruzam as margens do Rio Tejo, o cheiro das sardinhas assadas dos restaurantes no sopé da Colina de São Vicente e às portas de Alfama.
O ponto de retorno estava marcado junto ao Jardim do Tabaco. Por essa altura os pensamentos retrospectivos foram interrompidos por um atleta debutante na distância. Parecia procurar alguém com quem desabafar, embora me parecesse muito confortável na sua corrida.
A prova estava a ser feita a um ritmo elevado, pelo que uma conversa animada não estava nos meus planos. Mas durante quatro quilómetros conversámos sobre as suas dúvidas e as nossas experiências de corrida. O mercúrio aumentava e o cansaço foi-se apoderando de mim. A conversa tornou-se então mais intervalada e terminou com ele a incentivar-me à medida que se ia afastando.
Mas a meta junto ao Pavilhão de Portugal já não estava longe. O público volta a aparecer, as últimas reservas de energia são activadas e o último quilómetro é feito a uma velocidade acima da média.
O aproximar do final da prova faz-me recordar o momento em que terminei a minha primeira meia-maratona há dois anos neste preciso local. O avistar da meta e a certeza que iria concluir aquele meu primeiro desafio no mundo da corrida inundou-me de alegria e com uma sensação de dever cumprido. Pensei então que teria alcançado a meta. Sem nunca perceber que estava ali mesmo, em frente ao Pavilhão de Portugal, a começar uma corrida que não mais iria ter fim.
10 comentários:
Milton,
Lindo relato. Mesmo com o ritmo forte você não esqueceu as boas lembranças oferecidas pelas paisagens.
Dia 15 de novembro teremos aqui em Recife a 1ª Maratona Internacional Maurício de Nassau e que também será a minha primeira maratona.
Espero ser guiado por boas lembranças e ter excelentes companhias para suportar o sol forte dessa região.
Grande abraço e Parabéns!
Gilmar
Grande Gilmar!
Antes da minha primeira maratona encontrei a Rosa Mota, medalha de ouro da Maratona Olímpica de Seul em 1988. Pedi-lhe um conselho e ela primeiro perguntou-me se eu tinha treinado bem. Eu disse que sim (pensava eu que sim! Estava enganado...). Depois disse para ir com calma. De preferência acabar com a sensação que poderia ter ido mais rápido. Em vez de quebrar a meio.
Pelo que espero que tenhas treinado. E "pega leve" de início! :)
Mas com o pelotão de aço da ACORJA bons conselhos não te devem faltar!
Cá te esperamos em Lisboa para uma foto-reportagem e corrida!
Forte abraço e muita força nesse teu grande desafio!
Milton
olá, milton!!!
então este é o relato do longão que teria sido muito aborrecido pra mim? rsssssss
adorei!
gostei de conhecer um pouco de Lisboa pelo seu olhar!
à medida que lia seu relato, fui me sentindo mais e mais em meio aos corredores, senti o cheiro das pomadas, e a agitação; senti meu ritmo melhorar ao ouvir os aplausos do público, me maravilhei com os edifícios modernos, com o colorido metálico do porto...
a sua prova foi realmente fascinante!
uma viagem percorrendo suas memórias e sensações, ao mesmo tempo em que percorria as ruas de Lisboas...
abraços!
Elis,
Haveria muito mais para dizer sobre esta cidade.
Ias gostar desta meia-maratona de Lisboa certamente! Mas provavelmente continuarias a correr para além dos 21 kms por te saber a pouco... :)
E ladeira é coisa que não falta nesta Cidade das 7 Colinas.
Abraço e bons treinos!
Caro Milton,
Encontrei o teu blog e gostei dos textos, particularmente dos de Luanda :). Quando nos conhecemos iniciava a preparação para a minha primeira maratona, em NY (7 Nov). Fiz toda a preparação naquele cenário que descreveste da marginal, cada vez pior pois as obras já se iniciaram, com algumas variantes (incursões ao Miramar, para treinar subidas, longos na ilha de Luanda e, seguindo a tua experiência, na zona de Cabo Ledo (Sangano>Muxima). O nosso amigo Domingos lesionou-se um pouco depois de regressares a Lisboa pelo que treinei quase sempre sozinho. No entanto, o resultado não podia ter sido melhor! Manda-me o teu endereço de e-mail para eu te escrever, ok?
Abraço
Manuel (mafonsodias@gmail.com)
Manuel!
Obviamente fui espreitar logo no dia seguinte qual tinha sido o resultado! Foi uma estreia fabulosa! Parabéns!
Eu disse que 3h30m era um objectivo muito conservador para a força que já demonstravas no início dos treinos.
Na próxima vez que for a Luanda vou ter que preparar um texto sobre o percurso caótico da Ilha de Luanda! :)
Um abraço!
Olá Milton!
Pelo que vejo aqui nos teus relatos, lindos... não perdeste o jeito para escrever!!!
Expressas o que sentes nas palavras e por onde passas, o que vês, o que sentes...
Desculpa estar a seguir este teu blogue e intrometer-me aqui no meio das tuas corridas...
Um grande beijinho com saudades
Xixas
Lindas fotos, e um excelente relato desta terra de irmãos. Um grande abraço. Eduardo.
Sara,
Gosto em "ver-te" por aqui! Volta mais vezes! :) Beijos!
Eduardo,
Obrigado por mais uma visita!
Há muitas e boas provas em Lisboa. Cá te esperamos um dia. Abraço
Olá,
Quando é a tua proxima maratona?
Que tal Roma?
Beijocas
Miss you
Sara
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